Friday, June 23, 2006

Schumpeter, o governo agenciador de crescimento..por que o governo deve (ou não!) se comportar como um capitalista??? Inovar também é papel do estado?

A regulamentação da aplicação do excedente deve ser buscada (pelo governo) de forma mais ativa e positiva, para permitir que o crescimento se dissemine no sistema econômico, agindo este como um capitalista primordial juntamente com àqueles que naturalmente captam os recursos (bancos), produzindo um sistema em expansão e inclusão das parcelas menos favorecidas da população. As políticas assistencialistas do governo não ajudam. O governo precisa liderar o mercado, propondo novas frentes de desenvolvimento, e conjuntamente regulando melhor o crédito. Este seria o estímulo de liderança, ou mesmo a condução de política que precisa ser fomentada pelo Estado, através de regras claras que possibilitem a expansão dos fluxos no mercado. A idéia é não só reproduzir o sistema mas conduzir a expansão do setor produtivo. Vejamos o que Schumpeter tem a oferecer... (essa é a resposta aos amigos debatedores!) De novo, prefiro que os comentários e críticas sejam colocados aqui e não no e-mail, ok?) Um abraço a todos.
(As bases da expansão... a resenha) - o que não está em Schumpeter!!!
Segundo o autor, os fatos sociais resultam, ao menos de modo imediato, do comportamento humano, ou seja, comportamento dirigido para aquisição de bens, por troca ou produção, onde fica restringido seu conceito a esses tipos de aquisição, dando maior abrangência aos conceitos de motivo econômico e força econômica, dentro dos quais tratará a análise desenvolvida no texto do comportamento econômico. Delineando as características principais de uma imagem mental, sugerido pelo autor, do mecanismo econômico pensando inicialmente num Estado organizado comercialmente, no qual vigorem a propriedade privada, a divisão do trabalho e a livre concorrência.
Na análise que se segue, o autor prefere considerar sempre que em cada período econômico, todos vivem de bens produzidos no período precedente _ o que é possível se a produção se estende pelo passado, ou se o produto de um fator de produção flui continuamente, ressaltando que essa característica representa meramente uma simplificação da exposição.
Iniciando o desenvolvimento desta teoria, o autor no leva a supor que cada produtor venda toda sua produção e, na medida em que consome, é o próprio freguês, já que, na verdade, tal consumo privado é determinado pelo preço do mercado, ou seja, indiretamente pela quantidade de outros bens obtenível com a restrição do consumo de seu próprio produto; e supondo também, ao contrário que a quantidade de consumo privado atue sobre o preço de mercado exatamente como se a quantidade em questão aparecesse realmente no mercado. Nesta análise, os trabalhadores podem ser incluídos na mesma categoria que outras suscetíveis de comercialização. Pode-se imaginar que, ano após ano, todo emprego recorrente de fontes permanentes de capacidade produtiva procura alcançar o mesmo consumidor, sendo de qualquer modo, o resultado do processo, o mesmo que se teria se isso ocorresse.
Neste ponto o autor descreve pela primeira vez no texto o “fluxo circular”, extraindo do fato de que todos os bens encontram um mercado, seque-se que esse fluxo circular da vida econômica é fechado, ou, em outras palavras como sugere o autor, que os vendedores de todas as mercadorias aparecem novamente como compradores em medida suficiente para adquirir os bens que manterão seu consumo e seu equipamento produtivo no período econômico seguinte e no nível obtido até então, e vice-versa. A cada contribuição de bens e serviços fornecidos corresponde em algum ponto do sistema, uma reivindicação de outro individuo. E como todos sabem por experiência com quanto devem contribuir para obter o que querem, tendo em vista a condição de que cada cota acarreta uma certa contribuição, o fluxo circular do sistema está fechado e todas as contribuições e cotas devem se cancelar reciprocamente qualquer que seja o princípio segundo o qual é feita a distribuição. Fica claro nestas passagens, que o que se quer analisar, segundo o autor, não é o modo como o processo econômico se desenvolve historicamente até o estágio em que efetivamente o encontramos, mas o funcionamento de seu mecanismo ou organismo em um dado estágio de desenvolvimento.
De forma mais analítica, o autor começa a descrever a produção, condicionada pelas propriedades físicas dos objetos materiais e dos processos naturais. Nesse caso, a produção, desde o início, é um problema econômico, sendo necessário a distinção do problema puramente tecnológico da produção. Também no texto é apontado um contraste entre esses aspectos freqüentemente testemunhado na vida econômica, na oposição pessoal entre o gerente comercial e o técnico de uma empresa. Muitas vezes, no processo produtivo, vemos mudanças recomendadas por um lado e rejeitadas por outro, (No ex. citado pelo autor: o engenheiro pode recomendar um novo processo que o diretor comercial rejeita com o argumento de que não compensará), sendo neste caso uma questão de adequação. O que o homem de negócios quer dizer quando fala em adequação é claro: refere-se à vantagem comercial, e podemos expressar assim sua visão: os recursos que seriam requeridos para abastecer a máquina poderiam ser empregados em outro lugar com mais vantagem. O diretor comercial nesse exemplo, quer dizer que, numa economia que não fosse de trocas, a satisfação das necessidades não seria incrementada, mas pelo contrário reduzida, por tal alteração do processo produtivo. Se a satisfação das necessidades é o único fim de toda produção, então não há realmente nenhum sentido econômico em recorrer a uma medida que a prejudique.
Na prática, segundo o autor observamos que o elemento técnico deve submeter-se quando colide com o econômico. Em última instância a conveniência regula a produção tecnológica, assim como a econômica, e, a distinção entre as duas está na diferença do caráter dessa conveniência, assim também uma linha de pensamento um pouco diferente nos mostra a princípio uma analogia fundamental e depois a mesma distinção. A produção não “cria” nada no sentido físico, considerada tanto tecnológica quanto economicamente. Em ambos o caso, só pode influenciar as coisas e os processos_ou “forças”. Não coincidem as combinações econômicas e as tecnológicas, as primeiras ligadas às necessidades e meios existentes, as últimas, à idéia básica dos métodos. O objetivo da produção tecnológica é na verdade determinado pelo sistema econômico; a tecnologia só desenvolve métodos produtivos para bens procurados. Por fim o autor afirma que a lógica econômica prevalece sobre a tecnológica.
Os serviços do trabalho e da terra são, simplesmente forças produtivas. A medida da quantidade de trabalho de qualquer qualidade certamente apresenta dificuldades, mas pode ser efetuada, do mesmo modo, e em princípio, não haveria dificuldades para estabelecer alguma medida física dos serviços da terra, por mais complicada que a questão pudesse ser na prática. O autor aponta que o que o indivíduo deseja medir é o valor relativo das quantidades de seus meios de produção, precisando nesse caso de um padrão que o auxilie a regular seu comportamento econômico. Em suma precisa de um padrão de valor.
Em contraste com o valor de uso dos bens de consumo, esse valor dos bens de produção é “valor de rendimento”, ou como também poderia ser chamado, valor da produtividade. A utilidade marginal corresponde ao uso produtivo marginal, ou a produtividade marginal e medida através da importância de uma unidade individual dos serviços do trabalho ou da terra, que, portanto deve ser definida como o valor da unidade menos importante do produto gerada até agora com o auxílio de uma unidade de um dado estoque dos serviços individual do trabalho ou da terra. Esse valor indica a cota de cada serviço individual do trabalho ou da terra presente no valor do produto social total e por isso pode ser chamado, em certo sentido, de produto de um serviço do trabalho ou da terra.
Para continuar compondo a direção apontada pelo raciocínio do autor, o mesmo afirma que os preços dos serviços da terra e do trabalho numa economia de trocas, ou seja, a renda e os salários são determinados pela produtividade marginal da terra e do trabalho e, portanto, que sob a livre concorrência o senhor da terra e do trabalho recebem o produto de seus meios de produção. Empregando seus meios de produção na produção dos bens que satisfazem suas necessidades mais prementes e depois prosseguindo na satisfação das necessidades sentidas progressivamente com menos urgência. Além disso, considerará a cada passo que outras sensações de carência não devem ser satisfeitas em conseqüência do emprego dos meios de produção para as carências preferenciais do momento. Enquanto a escolha não for feita, os meios de produção não terão valor determinado.
Como toda produção envolve uma escolha entre possibilidades concorrentes e sempre significa renúncia à produção de outros bens, o valor do produto nunca é ganho líquido, mas apenas o seu excedente sobre o valor do produto que teria sido produzido de outra forma. Aqui parece que o autor se refere aos custos de oportunidades do sistema econômico, conforme descritos pela teoria econômica atual. ( ??? ). Neste ponto do texto, o autor refere-se pela primeira vez na questão dos custos. Os custos segundo Schumpeter, são um fenômeno de valor. Na análise final, o que a produção de um bem custa ao produtor são aqueles bens de consumo que de outro modo poderiam ser adquiridos com os mesmos meios de produção e que em conseqüência da escolha da produção não podem ser produzidos agora. Quanto mais longe o produtor leva a produção numa dada direção, mais dura se torna essa luta; ou seja, quanto mais uma necessidade particular é satisfeita, menor a intensidade do desejo por mais satisfação desse tipo, por isso menor é o incremento da satisfação alcançado com a produção adicional. Pois os meios de produção desse produto devem ser retirados de categorias de necessidades cada vez mais importantes. O ganho de valor por meio de um tipo de produção torna-se portanto cada vez menor e finalmente desaparece. Também nesse ponto o autor afirma a existência de uma “Lei dos rendimentos Decrescentes”, devendo salientar que esta, contudo tem um significado completamente diferente do da lei do produto físico decrescente, da qual a validade da proposição é independente, segundo Schumpeter. Segue a conclusão de que em geral nenhum valor excedente acima do valor dos bens de produção pode ser obtido na produção. Esta realiza apenas os valores previstos no plano econômico, que existem previamente, em potencial nos valores dos meios de produção.
Outro ponto importante a salientar trata-se do conceito de lucro econômico puro apontado por Schumpeter da seguinte forma: os preços de todos os produtos devem ser iguais aos preços dos serviços do trabalho e da natureza neles incorporados, em livre concorrência. Pois o mesmo preço que é obtido pelo produto depois da produção deve ter sido obtenível antes do conjunto completo dos meios de produção necessários, pois depende deles exatamente tanto quanto do produto. Cada produtor deve ceder suas receitas totais àqueles que o abasteceram dos meios de produção e, na medida em que eles também foram produtores de um outro produto, devem por sua vez passar adiante suas receitas, até que finalmente todo o preço total original recaia sobre os fornecedores dos serviços do trabalho e da natureza. Completando o cálculo, ao incluir também nos custos o valor em dinheiro de seus esforços pessoais. Então os custos são em sua essência os totais dos preços dos serviços do trabalho e da natureza. Esses totais de preços devem sempre se igualar às receitas obtidas pelos produtos. Nessa medida, portanto, a produção deve fluir essencialmente sem lucro. “Assim como o valor é um sintoma de nossa pobreza, o lucro é um sintoma de imperfeição”.
Schumpeter aponta para o fato desta idéia não se opor à doutrina clássica. A teoria do valor baseado nos custos e especialmente a teoria ricardiana do trabalho sugerem claramente a mesma conclusão, e assim explicam algumas tendências teóricas, tais como a tendência a chamar de salários todos os tipos de renda, às vezes até o juro. Continua, afirmando que Bohm-Bawerk, que todo o valor do produto deve ser dividido entre trabalho e terra. Duas circunstâncias perturbam constantemente o equilíbrio entre os valores do produto e dos meios de produção. A primeira é conhecida com o nome de fricção.
Aponta Bohm-Bawerk segundo Schumpeter, que por milhares de razões o organismo econômico não funciona com muita presteza. O erro, o contratempo, a indolência e coisas semelhantes, como sabemos, tornam-se fonte contínua de perda, mas também de lucro. Schumpeter introduziu em meio ao argumento acima dois elementos que considera de importância considerável. O primeiro elemento é o risco, distinguindo-se em dois tipos, primeiro, o risco de falha técnica na produção, na qual podemos incluir o risco de perda por fatores que dependem de Deus, e o risco do fracasso comercial. Os homens de negócios incluirão prêmios de risco em sua contabilidade de custos, lendo em conta as diferenças de risco entre os ramos da produção, evitando simplesmente os ramos mais arriscados até que a conseqüente elevação dos preços nos últimos ofereça uma compensação.
Considerado extremamente delicado, mas de suma importância para o autor, a questão temporal, os meios de produção são bens de consumo futuros e assim valem menos do que os bens de consumo. O seu valor não exaure o valor do produto. No curso normal de um sistema econômico no qual, ano após ano, o processo de produção segue o mesmo caminho e todos os dados permanecem os mesmos, haveria uma subvalorização sistemática dos meios de produção, comparados aos produtos? (Questão apontada por Schumpeter) Essa questão se subdivide em duas outras: Abstraindo-se os coeficientes de riscos objetivos e pessoais, num tal sistema econômico as satisfações futuras podem ser sistemática e generalizadamente valorizadas em menos do que as satisfações atuais iguais? E num tal sistema econômico, deixando-se à parte a influência do próprio transcurso do tempo sobre as valorizações, o que acontece no correr do tempo pode estabelecer essas diferenças de valor?
Certamente é mais agradável a entrega imediata de um presente do que sua promessa para o futuro. A questão descrita no texto, todavia, trata da valorização de um fluxo regular de renda.
Os valores, do modo como se ajustam um ao outro, são realizados pelo indivíduo ano após ano. Esse sistema mostra uma estabilidade notável. Em qualquer período econômico existe a tendência a voltar ao caminho já percorrido e a obter uma vez mais os mesmos valores. E mesmo quando essa regularidade é interrompida, sempre permanece alguma continuidade; pois mesmo que as condições externas mudem, não se trata nunca de fazer algo completamente novo, mas apenas de adaptar às novas condições o que já havia sendo feito. O sistema de valores que for estabelecido e as combinações que forem dadas será sempre ponto de partida para cada novo período econômico e tem, por assim dizer, um pressuposto ao seu favor. A quantidade e o valor dos bens nos períodos passados determinam parcialmente as quantidades e os valores dos bens seguintes, mas por si só não explica a estabilidade.
Sob a suposição de condições constantes, bens de consumo e de produção do mesmo tipo e quantidade seriam produzidos e consumidos em todos os períodos sucessivos pelo fato de que na prática as pessoas agem em conformidade com a experiência bem-sucedida, e que em teoria nós as consideramos como agindo em conformidade com o conhecimento da melhor combinação dos meios presentes sob condições dadas. O período funciona com bens que um período anterior preparou, e em todo período se produzem bens para uso no próximo. Este fato é expresso pela suposição de que em todo período só são consumidos produtos que foram produzidos no período no período anterior e que só são produzidos os que serão produzidos no período seguinte. Classificando as trocas que são necessárias para efetivar em cada período esse processo econômico simplificado, e. descartando aquelas (trocas) executadas meramente para passar adiante qualquer coisa que seja assim recebida. Seguindo esse raciocínio, Schumpeter restringe o desenvolvimento da teoria apresentada ao tipo de troca dos serviços do trabalho e da terra por bens de consumo, que ocorre em toda economia mercantil. Em cada período os serviços do trabalho e da terra que ainda não estão incorporados aos meios de produção a serem empregados no período em consideração são trocados por bens de consumo que foram terminados no período anterior. Pode-se considerar a partir daí, que, aqueles indivíduos que produziram bens de consumo no período precedente cedem parte deles no período atual aos trabalhadores e aos proprietários de terra, de cujos serviços precisam para a produção de novos bens de consumo para o período seguinte.
Trata-se simplesmente uma questão de troca e não de transações de crédito, sendo o elemento tempo desnecessário, pois não cumpre nenhum papel. Conclui-se que o processo de troca entre o trabalho e a terra, de um lado, e os bens de consumo, de outro, não apenas fornece a direção principal do curso da vida econômica, mas, segundo os pressupostos apresentados pelo autor, seria o único. Chega-se a um fluxo contínuo de bens e um processo econômico que se move continuamente, sem, contudo, encontrar estoques que sejam constantes, ou sejam renovados constantemente, sendo que, não faz diferença para uma determinada empresa produzir bens de consumo ou de produção.
O valor de troca de qualquer quantidade de uma mercadoria para cada indivíduo depende do valor dos bens que ele pode obter e que realmente tenciona obter com ela. O texto introduz a questão do valor, ou ao preço que de qualquer bem, mostrando a vinculação aos preços de todos os outros bens se os reduzirmos todos a um denominador comum, escolhendo o ouro como este denominador comum. As estimativas individuais de valor levam ao estabelecimento de uma relação de troca definida entre a unidade de dinheiro (ouro) e a quantidade de todos os outros bens. Sendo nesse caso, o valor de troca do dinheiro para cada um depende do valor de uso dos bens de consumo que se pode obter com a renda própria, daí conclui-se que, sob dadas condições, há para cada indivíduo uma escala de valor inequivocamente determinada e uma utilidade marginal definida de seu estoque dinheiro, sendo a magnitude deste estoque de dinheiro irrelevante segundo o autor.
Assim, correspondente à circulação de dinheiro (no caso ouro-metálico) em uma determinada direção, a uma corrente de bens em cujo sentido é oposto e que reflete este movimento.
Schumpeter aponta finalmente que os preços não expressam uma estimativa de valor social de um bem, não sendo a expressão imediata de um valor definido, mas o resultado de processos que atuam sob a pressão de muitas valorizações individuais.
Segundo Schumpeter, (Capítulo II – O Fenômeno Fundamental do Desenvolvimento Econômico) o desenvolvimento econômico até agora é objeto da história econômica, que é apenas uma parte da historia universal, unicamente separada do resto para fins de explanação. Por causa desta dependência fundamental do aspecto econômico das coisas em relação a tudo mais, não é possível explicar a mudança econômica apenas pelas condições econômicas anteriores. Pois o estado econômico de um povo não emerge simplesmente das condições econômicas precedentes, mas unicamente da situação econômica precedente.
A teoria do capítulo I descreve a vida econômica do ponto de vista do “fluxo circular”, correndo essencialmente pelos mesmos canais, ano após ano. A vida econômica também experimenta tais mudanças, mas experimenta outras que não aparecem continuamente e que mudam o limite, o curso tradicional. Essas mudanças não podem ser compreendidas por nenhuma análise do fluxo circular.
A teoria do capítulo I descreve a vida econômica do ponto de vista da tendência do sistema econômico para uma posição de equilíbrio, que nos dá meios de determinar preços e as quantidades de bens. A posição do estado ideal de equilíbrio do sistema econômico, nunca atingido pelo qual continuamente se luta, muda porque os dados mudam. Mas a análise estática não é apenas incapaz de predizer as conseqüências das mudanças descontínuas na maneira tradicional de fazer as coisas. Não pode explicar a ocorrência de tais revoluções produtivas, nem os fenômenos que as acompanham. Apenas pode investigar a nova posição de equilíbrio depois que as mudanças tenham ocorrido. Essa ocorrência da mudança revolucionária é justamente o problema, o problema do desenvolvimento econômico num sentido muito estreito e formal. O desenvolvimento é entendido por Schumpeter, portanto, apenas para as mudanças da vida econômica que não lhe foram impostas de fora, mas que surjam de dentro, por sua própria iniciativa. Dessa forma, o desenvolvimento é um fenômeno distinto, inteiramente estranho ao que pode ser observado no fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio. É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbações do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente.
Tais mudanças espontâneas e descontínuas no canal do fluxo circular e as perturbações do centro de equilíbrio aparecem na esfera da vida industrial e comercial, mas não nas necessidades dos consumidores de produtos finais. Shumpeter despreza qualquer necessidade espontânea dos consumidores que realmente possam existir, admitindo que os gostos são “dados”. Assim, é o produtor que normalmente inicia a mudança econômica, educando os consumidores caso necessário, ensinando a querer coisas novas, ou, criando hábitos de usar.
Produzir significa combinar coisas materiais e forças que estão as alcance. Produzir outras coisas, ou as mesmas coisas com métodos diferentes significa combinar diferentemente esse materiais e forças. Na medida em que novas combinações podem, com o tempo, originar-se das antigas por ajuste contínuo mediante a pequenas etapas, a certamente mudança, possivelmente há crescimento, mas não há nenhum fenômeno novo nem um desenvolvimento em nosso sentido. O desenvolvimento é definido então pela realização de novas combinações.
Esse conceito engloba os casos seguintes: 1- introdução de um novo bem; um bem que os consumidores ainda não tiverem familiarizado, ou uma nova qualidade de um bem, 2 – introdução de um novo método de produção, 3- abertura de um novo mercado, 4- conquista de uma nova fonte de matérias-primas ou de bem semimanufaturados, 5- estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio, ou a fragmentação de uma posição de monopólio.
O lento e contínuo acréscimo no tempo da oferta nacional de meios produtivos e de poupança é um fator importante na explicação do curso da história econômica por séculos, mas é completamente eclipsado pelo fato de que o desenvolvimento consiste primariamente em empregar recursos diferente de uma maneira diferente, em fazer coisas novas com eles. De modo especial, o crescimento da população e das fontes através das quais se pode poupar, tornou-se possível em grande parte pelo emprego de diferentes meios então existentes.
O comando sobre os meios de produção é necessário para a realização de novas combinações. O possuidor da riqueza, mesmo que seja o maior dos cartéis, deve recorrer ao crédito caso deseje realizar uma nova combinação, que não pode, como numa empresa estabelecida, ser financiado pelos retornos da produção anterior. Fornecer esse crédito é exatamente a função daquela categoria de indivíduos chamados capitalistas. Esse é o método característico do tipo capitalista de sociedade, para forças o sistema econômico a seguir por novos canais, para colocar seus meios aos serviços de novos fins, em contraste com o método de uma economia que não seja de trocas, do tipo que consiste simplesmente em exercer o poder de comando do órgão dirigente.
A teoria aceita vê um problema na existência dos meios produtivos necessários para processos produtivos novos, portanto essa acumulação torna-se uma função ou serviço distinto. Schumpeter não reconhece esse problema, aceitando que ele é criado por uma análise defeituosa. Para o autor o funcionamento do fluxo circular pressupõe quantidades dadas dos meios de produção, comentando que existe um outro problema a destacar. O problema dos meios produtivos (já empregados em algum lugar) do fluxo circular e como alocá-los nas novas combinações. Isso é feito pelo crédito, por meio do qual, quem quer realizar novas combinações sobrepuja os produtores do fluxo circular no mercado dos meios de produção requeridos.
Uma questão é colocada em pauta. De onde vem as somas necessárias à aquisição dos meios de produção necessários para as combinações novas, se os indivíduos em questão por um acaso não as tiver? A resposta convencional é simples, ou seja, vem do crescimento anual da poupança social mais aquela parte dos recursos que anualmente pode tornar-se livre.
Outro método de obter dinheiro para esse propósito, não pressupõe a existência de resultados acumulados do desenvolvimento anterior, e por isso pode ser considerado como único disponível dentro de uma lógica estrita. Este é a criação de poder de compra pelos bancos. A emissão de “bilhetes” pelos bancos não cobertos totalmente por moeda metálica retirada da circulação é um exemplo claro, mas os métodos dos bancos de depósitos prestam o mesmo serviço, quando aumentam a soma total do dispêndio possível.
O banqueiro não é um intermediário da mercadoria poder de compra, mas um produtor desta mercadoria. Contudo, como toda poupança e fundos de reserva hoje em dia afluem em geral para ele, e nele se concentra e demanda de poder existente ou criado, ele substitui os capitalistas privados, ou torna-se seu agente; tornou-se ele mesmo o capitalista por excelência.
Ao descrever o fluxo circular, deve-se tratar as combinações de meios de produção como dados, como possibilidades naturais, e admitir apenas variações pequenas na margem, tais que todo indivíduo pode realizar ao adaptar-se em seu ambiente econômico sem desviar-se materialmente das linhas habituais. Portanto, finalmente os empresários são um tipo especial e o seu comportamento um problema especial, a força motriz de um grande número de fenômenos significativos. A posição do autor pode ser caracterizada, por três partes correspondentes de oposições. A primeira pela oposição de dois processos reais, o fluxo circular ou a tendência para o equilíbrio. A segunda pela composição de dois aparatos teóricos, o estático e o dinâmico. O terceiro, pela oposição de dois tipos de conduta, que, seguindo a realidade pode ser descrito como dois tipos de indivíduos. Os meros administradores e os empresários. Nesse ponto o autor introduz a diferença primordial entre as duas classes citada acima através da “liderança”. Liderança quer dizer, como um tipo especial de função em contraste com uma mera diferença de posição, que existiria em todo corpo social, no maior como no menor, em combinação com o qual essa diferença sempre aparece. O problema específico da liderança surge, e a figura do líder aparece, apenas quando novas possibilidades se apresentam.
O significado da ação econômica é a satisfação de necessidades no sentido de que não haveria nenhuma ação econômica se não houvesse nenhuma necessidade. No caso do fluxo circular, pode-se também pensar na satisfação das necessidades como o motivo normal.O autor finaliza o capítulo afirmando que o ganho pecuniário é realmente uma expressão muito acurada de sucesso, especialmente de sucesso relativo, do ponto de vista do homem que luta por ele, e tenha a vantagem adicional de ser um fator objetivo e em grande parte independente da opinião dos outros. Que outros estímulos poderiam ser proporcionados, e como poderiam ser postos a funcionar tão bem como o fazem os capitalistas, são questões que segundo Schumpeter estão além do tema discutido.
(Schumpeter, J.A., Teoria do Desenvolvimento Econômico, Uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico, in.: Os Economistas, Tradução de Maria Silvia Possas – São Paulo, ed. Circulo do Livro, 1997)