Friday, November 17, 2006

Milton Friedman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, morre aos 94


16/11/2006 - 16h22
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da Folha Online


O economista americano Milton Friedman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 1976, morreu nesta quinta-feira aos 94 anos, em San Francisco, no Estado da Califórnia (costa oeste dos EUA).Ele sofreu um ataque cardíaco. Foi levado para um hospital próximo a sua casa, em San Francisco, mas não resistiu, contou sua filha Janet Martell, segundo o "The Wall Street Journal".
Reuters
Milton Friedman, 94, morto nesta quinta-feiraLíder da conservadora Escola de Chicago de Economia, o nome de Milton Friedman é associado às teorias "monetaristas", que consideram que a inflação pode ser controlada quase que exclusivamente pela oferta de moeda.O economista ganhou o Nobel com seus trabalhos sobre o papel do dinheiro na inflação e o uso da política monetária, além das pesquisas a respeito de políticas de estabilização econômica."Os economistas (...) têm, já por um longo tempo, ignorado quase totalmente o significado do dinheiro e da política monetária na análise dos ciclos de negócios e inflação", dizia o comunicado da Academia Real de Ciências da Suécia da época em que Friedman ganhou o prêmio."O debate sobre as teorias de Friedman levaram a uma revisão das políticas monetárias perseguidas pelos bancos centrais --em primeiro lugar, nos EUA. É muito raro para um economista obter tamanha influência, direta e indiretamente, não só na pesquisa como na política", afirmava o comunicado.Associado à polêmica frase "Não há almoço grátis", o economista mais tarde afirmou que não a inventou, apesar de tê-la escrito em coletânea de artigos na revista "Newsweek". "Prefiro [ficar conhecido por] uma [frase] que eu realmente inventei e que acho que é particularmente apropriada a esta cidade [Washington]: 'Ninguém gasta melhor o dinheiro de outra pessoa como gasta o seu próprio'", disse. "O oposto [de "Não há almoço grátis"] é "As melhores coisas da vida são grátis", comentou Friedman.As idéias de Friedman influenciaram diversos políticos. Nas décadas de 70 e 80, um grupo de economistas que estudaram na Universidade de Chicago --apelidados de "Chicago Boys"-- ocuparam importantes cargos no governo do ditador Augusto Pinochet no Chile e ajudaram-no em um programa de privatizações e a diminuir a inflação galopante do país.Friedman fez parte do Comitê de Política Econômica de Ronald Reagan no início dos anos 80, foi consultor da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e apoiou a malsucedida tentativa de reforma da Previdência de George W. Bush.Vida e obraO economista nasceu no dia 31 de julho de 1912, em uma família judia no bairro do Brooklyn, na cidade de Nova York. Seus pais vieram da cidade de Beregovo, na região da Transcarpácia, na Ucrânia. Obteve seu PhD na Universidade Columbia em 1946 e foi professor de economia na Universidade de Chicago entre 1946 e 1976.Desde 1977 era afiliado à Hoover Institution, na Universidade Stanford.Em 1988, recebeu a Medalha da Liberdade --maior honraria concedida a um civil dos EUA em reconhecimento a excepcionais serviços prestados à nação. Também foi agraciado, no mesmo ano, com a Medalha Nacional da Ciência. Recebeu distinções de universidades nos Estados Unidos, Japão, Israel e na Guatemala.Foi presidente da Associação Econômica Americana e da Associação Econômica Ocidental e membro da Sociedade Filosófica Americana e da Academia Nacional de Ciências. Ele publicou dezenas de livros e artigos. Os mais famosos são: "A Theory of the Consumption Function [Uma Teoria da Função do Consumo]"; "The Optimum Quantity of Money and Other Essays [A Melhor Quantidade de Dinheiro e Outros Ensaios]"; "A Monetary History of the United States [Uma História Monetária dos Estados Unidos]"; "Monetary Statistics of the United States [Estatísticas Monetárias dos Estados Unidos]" e "Monetary Trends in the United States and the United Kingdom [Tendências Monetárias nos Estados Unidos e no Reino Unido]". Os três útlimos foram escritos junto com A. J. Schwartz.Tinha, ainda, uma extensa produção em políticas públicas, sempre com ênfase nas liberdades individuais. Sobre esse assunto, escreveu, entre outros, "Capitalism and Freedom [Capitalismo e Liberdade]", com Rose D. Friedman; "Bright Promises, Dismal Performance [Promessas Brilhantes, Desempenhos Tristes]" com Rose D. Friedman; "Free to Choose [Livre para Escolher]"; e "Tyranny of the Status Quo [Tirania do Status Quo]".Friedman e sua mulher, Rose, tiveram dois filhos, Janet and David, quatro netos e três bisnetos.Leia mais
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Tuesday, November 14, 2006

Educação Financeira também empobrece

Analisando o mercado de crédito no Brasil, deparamos com um cenário intrigante. O endividamento do brasileiro está em níveis recordes, com mais da metade da população preocupada – deveria estar – com compromissos a saldar nos próximos meses com uma financeira ou um banco.
Nunca tivemos uma massa tão grande de devedores, muitos deles sem ter a real dimensão de seu problema pessoal e de suas conseqüências futuras. De servidores públicos a empreendedores, trabalhadores braçais a executivos, jovens a aposentados, é difícil encontrar algum grupo social livre de apertos financeiros. O uso do crédito vem aumentando em termos quantitativos, porém está longe de crescer também em qualidade. É notável, por exemplo, o volume de aposentados com dificuldades para liquidar os compromissos assumidos a partir da onda do crédito consignado fácil iniciada no ano passado. Você já reparou como os grandes bancos discretamente recolheram seu material publicitário desse produto?Por outro lado, temos também um grau de educação financeira sem precedentes, com orientações sobre organização financeira e investimentos distribuídas por incontáveis veículos de comunicação, orientação nas escolas, nas empresas, cartilhas distribuídas por bancos e grandes eventos sendo realizados nas principais cidades. Há uma aparente contradição entre a abundância de informação e o crescente mau uso do crédito.
Cabe lembrar que nossa classe média está mais rica, tanto em função da participação das mulheres no mercado de trabalho, que aumentou sensivelmente os ganhos das famílias, quanto em função dos incontáveis programas assistencialistas oferecidos às classes D e E no Governo Lula.
O brasileiro de hoje ganha mais, consome mais e está muito mais endividado.O fato é que podemos observar no mercado de crédito o efeito que vem polarizando a riqueza entre os brasileiros há décadas: quem tem menos, está empobrecendo; quem tem mais, está enriquecendo. Enquanto uma parte da população usa melhor os serviços financeiros e enriquece mais rapidamente, a outra parte vê cada vez mais distante seu sonho de fazer parte de uma classe mais rica.
A educação financeira realmente cresce em nosso país, porém cresce entre a classe média que não só tem acesso à informação, mas também consegue criar as condições para digeri-la. Em outras palavras, é uma educação para a elite bem informada.A conseqüência não é das mais positivas.
Diante de uma parcela da população mais bem esclarecida, bancos e financeiras oferecem produtos mais complexos que atendam às novas necessidades, porém esta maior complexidade dificulta o acesso do cidadão comum, aquele de educação precária e acesso limitado à informação. Some-se a este efeito a voracidade das instituições financeiras em abocanhar as fatias remanescentes de novos públicos consumidores, com estratégias de marketing e comunicação extremamente convincentes, como observamos no boom do crédito consignado.Se nada for feito, nossa vergonhosa desigualdade social continuará aumentando, independentemente de melhorias de indicadores como renda per capta e crescimento do PIB.
O caminho para reverter esse quadro é viável e recompensador, mas requer uma mudança de atitude na sociedade. Há muito tempo, defendo nesta coluna os efeitos positivos de se falar mais sobre dinheiro. Mas, além de incentivar o bom uso do dinheiro entre pessoas do círculo pessoal de relacionamentos, teríamos um efeito multiplicador muito mais poderoso se nos propuséssemos a falar sobre dinheiro e enriquecimento com aqueles que possuem menos. Um hábito bastante recorrente que tenho é o de lançar um comentário como “você viu como o pessoal anda endividado?”, sempre que há a oportunidade de puxar conversa com alguém que me presta um serviço.
É assim que descubro que porteiros, faxineiros, zeladores, manobristas, motoristas, instaladores de cortinas e diversos outros profissionais estão com problemas financeiros graves. E é assim também que crio a oportunidade de oferecer sugestões simples, como refinanciar um automóvel, sentar para conversar com o gerente do banco para organizar as dívidas ou então contratar um plano de previdência privada.A informação existe, mas precisa ser multiplicada.
O risco do mercado diminui como um todo se os participantes desse mercado usam melhor as alternativas de crédito. Não há como alguém sair perdendo se houver incentivo para que famílias saiam da linha da pobreza de maneira inteligente, ao invés de sair com assistencialismo. Você já pensou em ajudar alguém a sair do vermelho hoje?
Artigo escrito e enviado por Gustavo Cerbasi, consultor financeiro e professor da Fundação Instituto de Administração, sócio-diretor da Cerbasi & Associados Planejamento Financeiro e autor dos livros Dinheiro – Os segredos de quem tem e Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, ambos pela Editora Gente.

Monday, November 13, 2006

A massacrante felicidade dos outros


Martha Medeiros

Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma.
Estamos todos no mesmo barco. Há no ar um certo queixume sem razões muito claras.
Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?
Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: "Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento"
Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou aparentam ser.
Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim. Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente.
Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados. Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores."Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta. Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, isso vale ser incluído na nossa biografia.
Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé? Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista. As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento.

(Martha Medeiros, gaúcha, 44 anos, Jornalista, poeta e gente fina).
(Enviado por Cassia Medeiros)

Wednesday, November 08, 2006

A maravilhosa economia cubana: ainda chegaremos lá!


Quarta-feira, 1 de Novembro de 2006

Ao contrário do que meus alunos (e leitores) pensam, sou um grande admirador da economia e política cubanas. Hoje, por exemplo, li no “O Estado de São Paulo”, uma tradução de matéria do “The Washintgon Post” sobre a ilhota favorita dos militantes esquerdistas do Brasil. O tema? A economia clandestina de Cuba. Um trecho, em especial, merece ser transcrito.
“A próspera economia clandestina funciona como um bolsão de capitalismo, guiado pela oferta e pela procura, no único Estado comunista do Hemisfério Ocidental. Observadores dizem que ela pode ser precursora de um movimento rumo a uma economia de mercado, que poderia se acelerar depois da morte do presidente Fidel Castro; por outro lado, afirmam eles, o mercado negro pode ser simplesmente um subproduto de um sistema que recompensa quem é esperto e tem boas relações”. [O Estado de São Paulo, 29.10.2006, p.A15]
O final do parágrafo é fascinante: quem é “esperto” e “tem boas relações” prevalece sobre quem é mais eficiente, impessoal. É exatamente o problema que Gary Becker chama de
“crony capitalism”, um misto de economia de mercado com incentivos que privilegiam as relações com os donos do poder político às relações com os consumidores. Neste tipo de regime, diz Becker, os consumidores perdem mais em bem-estar do que em um mercado competitivo. Não é difícil ver o porquê, embora muita gente goste de tapar o sol da evidência com uma grossa peneira ideológica.
Muitos “formadores de opinião” (acadêmicos, jornalistas, artistas, etc) são os mais entusiasmados defensores deste capitalismo de padrinhos. O discurso é mais ou menos assim: se um sujeito se preocupa com sua felicidade - o (mal)dito “individualismo” - é um decrépito, safado. Já um que leve em conta as relações pessoais é “mais humano”. Por exemplo, se um sujeito pretende vender pipocas a um preço mais baixo, ele é, na opinião de alguns destes formadores, um egoísta/individualista. Por outro lado, se ele montar um cartel com outros pipoqueiros para aumentar o preço da pipoca, diz-se que tem “preocupação social”. Sei que o leitor pode achar isto um exagero, mas o raciocínio é exatamente este. A questão é que alguns formadores de opinião só se utilizam de alguns exemplos, ignorando os que mostram a inconsistência de seu - absurdo - argumento.
Mas continuando em minha admiração pela ilhota, podemos pensar em outro exemplo, adaptado à nossa realidade tropical, tupiniquim e - por que não? - selvagem.
Um governo que aumenta sua participação na economia, segundo um dito “pensamento convencional” (também conhecido como lógica matemática elementar, pouco familiar aos militantes das causas ideológicas…), automaticamente diminui a participação do setor privado na mesma. Isto quer dizer que há mais padrinhos do que apadrinhados ou que as regras para os não-apadrinhados podem estar em processo de progressiva complexificação. Em outras palavras, fica cada vez mais difícil para um sujeito que deseja trabalhar como empresário não recorrer aos burocratas, senhores das leis e da arrecadação. Se as amarras legais ao poder dos burocratas não surtem efeito, a situação pode inclusive ser pior para os burocratas honestos (eles existem, obviamente, tanto quanto os empresários desonestos). Isto porque brigas políticas são constantes no setor público. No setor privado, claro, isto também existe, mas o preço a ser pago é mais alto: perde-se o emprego. No setor público, funcionários que erram ou sabotam políticas públicas nem sempre são punidos.
A economia brasileira pode alcançar o grau de ineficiência de sua similar cubana sem mudar seu sistema econômico para o tal “socialismo”? Pode. Basta manter instituições ruins e contar com formadores de opinião de má qualidade. Ao ler os jornais, vejo que o caminho da servidão continua sendo eficientemente pavimentado por muitos de meus compatriotas, alguns ingênuos, outros mal-intencionados. Dá vontade de dizer, em alto e bom tom: “Brasil, amo-o e, por isto, deixo-o”. A depressão é muita para um indivíduo só e, nestas horas, a tal sociedade nunca vem em meu socorro. Sobra só o indivíduo, sozinho, com seus problemas…
arquivado em
Economia.

Uma resposta para “A maravilhosa economia cubana: ainda chegaremos lá!”

Prezado Professor, o Sr. está com toda razão…

“Não há dúvida de que a segurança adequada contra as privações, bem como a redução das causas evitáveis do fracasso e do descontentamento que ele acarreta, deverão constituir objetivos importantes da política do governo. Mas , para que essas tentativas sejam bem-sucedidas e não destruam a liberdade individual, a segurança deve ser proporcionada paralelamente ao mercado, deixando que a concorrência funcione sem obstáculos.”(F.A.von Hayek / citação)

Tuesday, November 07, 2006

Campaigning and Elections

2006 Washington Post.Newsweek Interactive Co. LLC