Sunday, June 24, 2007

Riscos ocultos

Danilo Fariello, Valor Online, 22/06/2007


Aswath Damodaran é daquelas personalidades que, quando falam, ninguém ousa ignorar. Um dos gurus do mercado financeiro mundial, o indiano professor da Stern School of Business e aplicador do mercado brasileiro diz que, no mundo todo, muitos novos investidores das bolsas não têm a noção correta do risco que correm. "Novos pequenos investidores do mercado estão procurando dinheiro fácil", diz ele, para quem só se aprende exatamente o que é risco depois de uma experiência ruim.


Em entrevista ao Valor por telefone, de Nova York, o guru faz um alerta aos acionistas brasileiros: as ações aqui subiram muito pela conjuntura internacional, o que não significa melhorias na gestão das empresas, principalmente em questões ligadas à governança corporativa.


Autor de best-sellers como "Mitos de Investimentos" , Damodaran vem ao Brasil na próxima semana ministrar a palestra "O valor do controle das empresas" a investidores institucionais clientes da Brascan Corretora , no Rio. Para ele, este momento de alta é ideal para que os investidores pressionem os controladores por evoluções na gestão das empresas. A seguir, os principais trechos da entrevista.


Valor: Há uma evolução positiva na governança das empresas brasileiras nos últimos tempos?


Aswath Damodaram: Sim, mas as diferentes classes de ações (ON e PN) sempre me incomodaram muito no Brasil e continuam a existir. Com as ações PN, a empresa quer meu dinheiro, mas não quer ouvir minha voz. Mas as coisas têm mudado. As empresas já perdem acionistas de longo prazo por não mostrar como administram a companhia e os acionistas pagam menos por empresas que não conhecem. Isso aconteceu primeiro no Brasil e deve se expandir pela América Latina. Há avanços, mas não o suficiente. Muitas empresas maiores e antigas no mercado ainda têm duas classes de ações.


Valor: O senhor acha que as ações preferenciais estão se aproximando do seu fim?


Damodaran: É cedo para dizer isso. Ainda há muitas empresas e famílias controladoras que evitam mudar. É uma longa e dura briga. Investidores no Brasil têm de brigar por seus direitos. Levantar e dizer: não posso votar, portanto não vou pagar tanto pelas ações. Não se pode esperar o governo para defendê-los ou ocorrerão fatos como o da Arcelor . Há um ditado antigo democrático que diz que o povo tem o governo que merece. Isso vale também em termos de governança. Acionistas têm os administradores que merecem.


Valor: Essa preocupação existe neste momento de euforia?


Damodaran: Isso torna essas mudanças mais difíceis, porque todo olham para as ações disparando e não pensam em exigir mais direitos. Mas eu acho que são duas questões separadas. A alta das ações brasileiras recente se deve à liquidez mundial e à melhora de percepção do pais. E isso não tem nada a ver com melhora na qualidade de gestão das empresas. Não se deve confundir boa sorte com bom investimento, diz um ditado. Por que os administradores têm de levar o crédito por fatores (macroeconômicos) que não controlam? Este é o momento correto para pressionar controladores a tomar decisões corretas para melhorar a governança.


Valor: Muitos investidores brasileiros começam a descobrir o mercado de ações.


Damodaran: Acho isso positivo, porque todos pensam mais na economia. Isso significa que mesmo indivíduos de renda menor acompanham o mercado. É saudável para a economia todos terem investimentos de risco. Porém, mais pessoas estão expostas a esses riscos.


Valor: Esses novos investidores sabem que as empresas podem não estar tão bem quanto suas ações?


Damodaran: Hoje, muitos novos pequenos investidores estão procurando dinheiro fácil. É um triste fato, mas o único modo de aprender sobre investimentos é tendo algumas experiências ruins. Assim como no Brasil, na China e na Índia há muitos novos investidores na bolsa, freqüentemente com um senso errôneo de que conseguirão 20% de retorno em pouco tempo sem risco. Meu conselho a esses investidores é: você tem de conhecer a empresa e a gestão, pois não há meios fáceis de fazer dinheiro. Pelo contrário, há muitos caminhos difíceis para fazer dinheiro e é preciso perder para aprender.


Valor: O senhor acredita que muitos entram no mercado sem saber de fato do que se trata?


Damodaran: Sim e, como disse, isso não ocorre atualmente apenas no Brasil ou em países emergentes. Mesmo nos Estados Unidos, muitas pessoas entram no mercado de ações sem conhecê-lo. Depois que perdem dinheiro, normalmente reclamam que o governo não os protegeu da queda. Mas, se querem a alta, devem estar preparados para os momentos de baixa.


Valor: Como o senhor vê as novas ofertas públicas iniciais no Brasil?


Damodaran: É positivo e isso tem a ver com a boa capacidade dos empresários brasileiros. Uma economia é mais saudável quando as companhias já estabelecidas no mercado são constantemente desafiadas por novas empresas, novos investidores e novas idéias. Fico feliz em saber que o Brasil finalmente abraçou essa tradição.


Valor: Recentemente, nossos fundos passaram a poder investir no exterior, como o senhor avalia isso?


Damodaran: É um sinal de maturidade, porque você aceitará competição e poderá vencer. Na Índia, por exemplo, ainda estamos bastante restritos nesse sentido. É bom quando investidores brasileiros olham para o exterior e ainda decidem investir na Embraer , por exemplo. Isso me diz que eles ainda acham que essas companhias são boas. Se tem mercado aberto e as pessoas ainda investem aqui, isso será uma prova de confiança.


Valor: Em quais setores da bolsa brasileira o senhor vê maior potencial de valorização?


Damodaran: O setor de manufatura tem grande potencial, como a Embraer e as siderúrgicas. Podem ter problemas as empresas que produzem produtos de baixo custo, pela competição chinesa, e empresas de informática, pela Índia. As commodities são um jogo perigoso, porque subiram demais.

Friday, June 15, 2007


CEFET-MG e NPC promovem Mostra de Vídeos Populares de 13 a 16 de junho


Mostra visa divulgar trabalhos que não têm espaço na grande mídia



O CEFET-MG, por meio da Seção de Atividades Culturais (SAC) e da Coordenação de Estudos Sociais, em parceria com o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), organização não governamental voltada para a difusão e pesquisa em comunicação popular, realiza, de 13 a 16 de junho, no auditório do Campus I, a Mostra de Vídeos Populares.

O evento cinematrográfico é destinado a toda a comunidade cefetiana (professores, alunos e funcionários) e tem por objetivo estimular o uso de vídeos como ferramenta pedagógica, despertando o interesse dos jovens para questões sociais, história e cultura brasileiras.

Temas como racismo, luta pela terra, trabalho escravo, meio ambiente, história, política, conjuntura nacional e realidade brasileira serão debatidos tendo como ponto de partida a exibição de vídeos produzidos por diferentes entidades do movimento social.

Embora resultem do esforço de entidades do próprio movimento popular ou de instituições muito próximas dele, muitos vídeos constantes da Mostra são desconhecidos de movimentos sociais. Com raras exceções, esses documentários nunca foram exibidos em circuito comercial. Por essa razão, o NPC vem se empenhando em difundi-los, já que o conteúdo oferece uma grande contribuição para a construção de cidadãos críticos.

Além da Mostra, o NPC está preparando a publicação de um catálogo com cerca de 300 títulos de vídeos populares. É intenção da entidade estimular, também, a criação de videotecas a partir de núcleos formados com a participação de sindicatos, associações comunitárias e outras instituições.

As sessões serão comentadas pelos professores da Coordenação de Estudos Sociais do CEFET-MG, e o filme "Entre Muros e Favelas" será comentado por Vito Giannotti do NPC.



Programação


Auditório – Campus I


Dia 13 de Junho - Quarta-feira

9h - O Projeto Mostra de Vídeos Populares
Vito Giannotti – ex-metalúrgico e escritor. Fundador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC). Tem cerca de 30 livros editados sobre sindicalismo e comunicação alternativa.

Ligia Elias Coelho – Jornalista e graduada em produção cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atuou em diversos órgãos da imprensa do Rio de Janeiro e também como assessora de imprensa em sindicatos e empresas.

Representante da Eletrobrás

* Lançamento do livro: História das Lutas dos Trabalhadores no Brasil, de Vito Giannotti (Editora Mauad)



10h - Filme: Entre Muros e Favelas
Direção: Suzanne Dzeik, Kirstem Wagenschein e Márcio Jerônimo (2005).
A vida nos morros e comunidades pobres do Rio de Janeiro.

16h - Filme: Profissão Doméstica
Direção: Sérgio Goldenberg (1993).
Produção: Cecip - Centro de Criação de Imagem Popular
O universo das trabalhadoras domésticas – suas dores, frustrações, humilhações, temores e esperanças.



19h - Filme: Terceirização: a escravidão em Versão Neoliberal
Realização: Sindieletro-MG (2005).
O crescimento da precarização do trabalho nos últimos anos.



19h30 - Filme: 13 de maio
Direção: Cícero Silva (2005).
O problema e a luta contra o trabalho escravo no Maranhão e no Brasil.



Dia 14 de Junho - Quinta-feira

10h - Filme: Alguém falou em racismo?
Produção: Cecip – Centro de Criação de Imagem Popular
Aborda a origem e as diferentes formas de racismo e propõe ações para superá-las.


19h30 - Filme: Alguém falou em racismo?
Produção: Cecip – Centro de Criação de Imagem Popular
Aborda a origem e as diferentes formas de racismo e propõe ações para superá-las.


15 de Junho - Sexta-feira

10h - Filme: Nem com uma Flor
Direção: Sérgio Goldenberg (1999).
Produção: Cecip - Centro de Criação de Imagem Popular
O documentário traz depoimentos de mulheres vítimas de violência, de adolescentes, de delegadas, advogadas, feministas e estudiosas do tema.


11h - Filme: Boca de Lixo
Direção: Eduardo Coutinho (1992).
Produção: Cecip - Centro de Criação de Imagem Popular
Documentário sobre o cotidiano dos catadores de lixo do vazadouro de Itaóca, em São Gonçalo(RJ). Revela uma das faces mais cruéis da desigualdade econômica no Brasil.

16h30 - Filme: Rompendo o Silêncio
Produção: MST, FAZ´-ES e Rede Aberta contra o Deserto Verde (2006).
O vídeo explica as razões que levaram as mulheres sem-terra a decidir pela ocupação e pela destruição das plantações e do laboratório da Aracruz Celulose no Rio Grande do Sul.

19h - Filme: Tempo de Resistência
Direção: André Ristum e Leopoldo Paulino (2004).
A partir do depoimento de mais de 30 pessoas envolvidas na resistência à ditadura militar no Brasil, o filme aborda todo o processo, desde o golpe até a anistia.


16 de Junho - Sábado

9h - Filme: Tempo de Resistência
Direção: André Ristum e Leopoldo Paulino (2004).
A partir do depoimento de mais de 30 pessoas envolvidas na resistência à ditadura militar no Brasil, o filme aborda todo o processo, desde o golpe até a anistia.

13h e 15h - Filme: Paixão e Guerra no Sertão de Canudos
Direção: Antônio Olavo (1993).
Com depoimentos de pesquisadores e, sobretudo, dos parentes dos combatentes de Canudos, o filme oferece uma aula sobre a luta pela terra e pela liberdade.



Assessoria de Comunicação Social/CEFET-MG

Sunday, June 10, 2007

Aviso aos quarentões

Ponto de vista: Stephen Kanitz


"Para aqueles que estão chegando aos 40 anos, eu tenho duas notícias: uma boa e uma péssima. A boa é que você provavelmente viverá até os 80. Sua expectativa de vida ao nascer era de 67 anos, mas, como você conseguiu chegar vivo aos 40, sua média de vida aumentou para 74 anos. Aqueles que estavam reduzindo sua média inicial morreram. Daqui a dez anos, muitas das doenças incuráveis de hoje terão solução, aumentando ainda mais sua expectativa de vida, talvez até os 80. Sua mulher, que já tinha expectativa de vida ao nascer de 75 anos, aos 40 terá uma expectativa de 79, daqui a dez anos irá para 85, 90 anos.

A má notícia é que provavelmente você não pensou nisso, não se preocupou em fazer um pé-de-meia para custear essa longa aposentadoria, a sua e a de sua mulher. Nem percebeu que os vinte anos que você contribuiu para a Previdência não foram depositados num fundo previdenciário público, preservando o equilíbrio atuarial, como reza o artigo 201 de nossa Constituição. Também, lamento dizer, ninguém vai empregá-lo até os 70 anos de idade, e será difícil achar um novo emprego depois dos 50. Não conte com essa nova geração para sustentá-lo na velhice. Ela terá problemas suficientes para sobreviver, além de ter também de poupar para a própria velhice.

Aos 40 anos ainda se tem chance de poupar rapidamente os recursos necessários nos próximos dez a quinze anos. Assim sendo, aquela viagem programada para a Disney, nem pensar. Nem aquele Audi A4. O valor exato que você precisará ter poupado para se aposentar aos 65 anos é um cálculo complicadíssimo, depende de sua idade atual, do risco que você quer assumir em suas aplicações financeiras, dos juros médios a partir de 2015, e da taxação futura dos rendimentos de seus investimentos. Mas aqui vão algumas previsões, que infelizmente ninguém divulga, mas que podemos considerar como praticamente certas.

1) Com o investment grade (grau de investimento seguro, segundo as agências internacionais de classificação de risco), os juros reais no Brasil deverão ser como no México, na França e nos Estados Unidos. Algo em torno de 2,5% a 3% ao ano, a partir de 2015. Achar que você poderá investir em títulos públicos e ganhar 6% a 7% ao ano sem risco é uma doce ilusão.

2) O imposto de renda que incide sobre os que poupam, os chamados "endinheirados" , provavelmente aumentará. Hoje é de 20%, mas logo será de 25%, justamente porque o juro caiu, e o governo arrecadará menos.

3) Esse imposto incide sobre o "juro" nominal, e não sobre o juro real, que é o verdadeiro juro. Se o juro real for igual à inflação, o imposto vai para 50%, o dobro dos 25% esperados no futuro. Portanto, calculando-se 50% de imposto sobre 2,5% a 3% de juros, sobrará somente 1,2% a 1,5% ao ano de rendimento. Para cada 1.000 reais de renda mensal de aposentadoria que você desejar receber, precisará acumular no mínimo 1 milhão de reais. Lamento muito, é só fazer as contas.

Uma aposentadoria de 10.000 reais por mês exigirá uma poupança acumulada aos 65 anos em torno de 10 milhões de reais. Dez mil é a aposentadoria típica de um professor titular de filosofia, sociologia, economia de uma universidade pública. Há alguns que ganham até mais.

Se você quiser ganhar o mesmo, terá de acumular 10 milhões, que aplicados a 1,2% ao ano darão 120.000 por ano, ou 10.000 por mês. Mesmo assim, sem direito ao décimo terceiro salário.

É óbvio que nenhum de nós vai conseguir acumular 10 milhões, muito menos se aposentar com 10.000 por mês. Você terá de se contentar em viver com 3.000 ou menos. Provavelmente terá de aplicar seu dinheirinho em investimentos muito mais arriscados do que títulos públicos. Terá de lutar pela redução do imposto de renda que incide sobre juros, pela correção monetária do investimento inicial, ou fazer tudo isso ao mesmo tempo. Uma terceira alternativa é ir literalmente comendo o capital inicial ao longo do tempo. O que é muito assustador para qualquer aposentado – nunca se sabe quando o dinheiro poderá acabar. Pior de tudo, você terá de estabelecer um ano preciso para morrer, tipo 83 anos, e torcer para que não passe disso. Depois desse aniversário, justamente pelos cálculos feitos, você não terá mais dinheiro.

A outra opção é arrumar uma boa aposentadoria do governo, adotar um discurso anti-renda, antijuro, antiacumulação de riqueza, sem se preocupar com o futuro do câmbio, da economia, muito menos com o futuro do Brasil. "


Stephen Kanitz é formado pela Harvard Business School (www.kanitz. com.br)

Saturday, June 09, 2007

MONITORAMENTO DE CONTAS PELO BANCO CENTRAL


De: BovespaBrasil@ yahoogrupos. com.br [mailto:BovespaBras il@yahoogrupos. com.br]


Apelidado de Hal, o cérebro eletrônico mais poderoso de Brasília fiscalizará
as contas bancárias de todos os brasileiros.

Desde a manhã da segunda-feira (07/05), trabalha sem cessar no quinto
subsolo do Banco Central um supercomputador instalado especialmente para
reunir, atualizar e fiscalizar todas as contas bancárias das 182
instituições financeiras instaladas no País.

Seu nome oficial é Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional CCS
na sigla abreviada, já apelidado de HAL.

A primeira carga de informações que o computador recebeu durou quatro dias.

Ao final do processo, ele havia criado nada menos que 150 milhões de
diferentes pastas (uma para cada correntista do País), interligadas por
CPF's e CNPJ's aos nomes dos titulares e de seus procuradores.

A cada dia, Hal acrescentará a seus arquivos cerca de um milhão de novos
registros, em informações providas pelo sistema bancário.

A partir desta semana, quando o sistema se estabilizar, o CCS deverá
responder a cerca de 3 mil consultas diárias.

Toda conta que for aberta, fechada, movimentada ou abandonada, em qualquer
banco do País, estará armazenada ali, com origem, destino e nome do
proprietário.

São três servidores e cinco CPU's de diversas marcas trabalhando
simultaneamente, no que se costuma chamar de cluster.

Este conjunto é o novo coração de um grande sistema de processamento que
ocupa um andar inteiro do edifício-sede do Banco Central.

Seu poderio não vem da capacidade bruta de processamento, mas do software
que o equipa.

Desenvolvida pelo próprio BC, a inteligência artificial do Hal consumiu a
maior parte dos quase R$ 20 milhões destinados ao projeto - gastos
principalmente com a compra de equipamentos e o pagamento da mão-de-obra
especializada.

Só há dois sistemas parecidos no planeta. Um na Alemanha, outro na França.

Mas ambos são inferiores ao brasileiro. No alemão, por exemplo, a
defasagem entre a abertura de uma conta bancária e seu registro no
computador é de dois meses.

Aqui, o prazo é de dois dias. Não por acaso, para chegar perto do Hal, é
preciso passar por três portas blindadas, com código de acesso especial.

Visto em perspectiva, o sistema é o complemento tecnológico do Sistema
Brasileiro de Pagamentos (SBP), que, nos anos de Armínio Fraga à frente do
BC, uniformizou as relações entre os bancos, as pessoas, empresas e o
governo.

Com o Hal, o Banco Central ganha uma ferramenta tecnológica a altura de um
sistema financeiro altamente informatizado e moderno.

Recuperamos o tempo perdido", diz o diretor de Administração do BC, João
Antônio Fleury.

O supercomputador promete, também, ser uma ferramenta decisiva no combate a
fraudes, caixa dois e lavagem de dinheiro no Brasil. ' "Vamos abrir senha
para que os juízes possam acessar diretamente o computador", informa Fleury.


O banco de dados do Hal remete aos movimentos dos últimos cinco anos.

Antes de sua chegada, quando a Justiça solicitava uma quebra de sigilo
bancário, o Banco Central era obrigado a encaminhar ofício a 182 bancos,
solicitando informações sobre um CPF ou CNPJ. Multiplique- se isso por três
mil pedidos diários.

São 546 mil pedidos de informações à espera de meio milhão de respostas.

Em determinados casos, o pedido de quebra de sigilo chegava ao BC com um
mimo: "Cumpra-se em 24 horas, sob pena de prisão".

A partir da estréia do Hall, com um simples clique, COAF, Ministério
Público, Polícia Federal e qualquer juiz têm acesso a todas as contas que um
cidadão ou uma empresa mantêm no Brasil.

R$ 20 milhões foi o orçamento da criação do cadastro de clientes do sistema
financeiro. Sob controle 182 bancos 150 milhões de contas 1 milhão de dados
bancários por dia ...

AGORA, REDUÇÃO DE CARGA TRIBUTÁRIA... NEM SEU TRINETO VERÁ!

Monday, June 04, 2007

O jogo do mico-preto

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS



Os veteranos do mercado já começam a se perguntar até quando vai durar a festa dos investidores

AS BOLSAS de Valores espalhadas pelo mundo batem sucessivos recordes de alta. Mesmo nos Estados Unidos, o mais importante mercado, os índices já estão acima do recorde atingido em 2000, apesar de a economia passar por um momento de crescimento bastante frágil. Uma das forças por trás do vigor dos índices americanos tem sido uma nova onda de compra de empresas, com o pagamento de grandes prêmios sobre os preços negociados nos mercados de ações. Esse mesmo fenômeno ocorre também nas principais Bolsas européias, como mostra a incrível batalha de bilhões de dólares pelo banco holandês ABN.
Podemos identificar as forças que estão por trás desse boom nos mercados de ações. O primeiro é que vivemos, com exceção dos Estados Unidos, um momento quase mágico nas maiores economias do mundo: crescimento econômico acelerado e inflação sob controle. Em segundo lugar, as empresas têm apresentado resultados operacionais bastante fortes, fazendo com que a relação preço/lucro ainda se mantenha abaixo das médias históricas.
Mas o fator mais importante para esse estado de graça dos mercados tem sido a incrível liquidez que existe hoje no mundo. O dinheiro está queimando nas mãos dos investidores, principalmente os grandes fundos de investimento espalhados pelo mundo. Na maioria dos casos, as transações são pagas em dinheiro, ao contrário da onda dos anos 90, quando eram feitas trocas de ações.
E esse dinheiro tem sido obtido cada vez mais por meio de endividamento. Como exemplo, tenho citado o caso de uma das últimas operações de compra de empresas com um prêmio elevado em relação ao preço de suas ações no mercado. A partir desse fato real, crio uma fantasia para mostrar essa armadilha de liquidez que vivemos hoje.
Há questão de poucos meses, uma empresa americana especializada em compra de empresas -usando dinheiro emprestado- pagou algo como US$ 44 bilhões por uma companhia texana de energia elétrica. Esse preço representou um prêmio de 15% sobre o valor de mercado nos dias que antecederam essa operação. Esse é um fato conhecido por quem acompanha os mercados.
Agora começo minha imagem sobre o que aconteceu com os investidores que venderam suas ações.
A operação certamente foi comemorada com festas e muita alegria pelos vendedores. Mas, com o passar dos dias, esse sentimento de euforia começou a azedar. Com o dinheiro da venda no caixa e aplicado em renda fixa a juros baixos, a sensação do bom negócio foi desaparecendo diante da pergunta que começou a ser feita por todos. O que fazer agora com esse dinheiro todo se o mercado de ações continua a subir?
De repente, o vencedor dessa operação passou a ser claramente o comprador, que, apesar de endividado, recebe os bons resultados econômicos da empresa. E aos vendedores sobrou a conclusão de que a melhor coisa a fazer era voltar ao mercado acionário.
Essa espécie de jogo do mico-preto -agora representado por dinheiro em caixa- é que está dominando a ação dos investidores e criando uma corrida perigosa em busca de ativos reais que rendam mais do que os juros pagos pelos tomadores de dinheiro nos mercados de crédito, inclusive no Brasil. Em parte esse é um movimento lastreado em fundamentos sólidos -a incrível criação de riqueza proporcionada pela incorporação de centenas de milhões de pessoas na força de trabalho mundial-, mas os veteranos do mercado já começam a se perguntar até quando vai durar a festa.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
lcmb2@terra. com.br