Friday, March 30, 2007

Nova metodologia do IBGE impacta pouco o risco-País

Após a revisão dos métodos de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) feita recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — o desempenho de 2006 será divulgado hoje e deve subir para 3,7% —, a discussão sobre a chegada do investment grade ainda é polêmica entre os economistas. Se por um lado a relação dívida/PIB caiu (para algo em torno de 46%), por outro, a taxa de investimento no País também cedeu de 19,9% para 16,3%.
Estes componentes eram tidos como fundamentais para uma melhor classificação de risco do Brasil. Porém, os mais céticos em relação ao grau de investimento lembram das reformas estruturais (tributária e previdenciária, por exemplo) que ainda não foram realizadas pelo Governo Federal. Na outra ponta, os otimistas destacam que o Brasil demonstrou que pode crescer, apesar da ainda baixa taxa de investimentos diretos no País.
Na opinião de Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, de forma alguma o novo cálculo deve acelerar a obtenção do grau de investimento. “Isso não muda a consistência do crescimento. Mudaria se fosse acompanhado de um movimento de investimento muito forte”, explica. Para ele, os entraves ainda são os gastos altos da máquina pública e a baixa taxa de investimentos.
“O governo gasta demais e a dívida ainda está muito acima da dos países que tem o grau de investimento” , destaca Agostini.
Na contramão do economista está o secretário do Tesouro, Tarcísio Godoy, que acredita na conquista do selo antes do esperado justamente pelos dados atualizados com a nova metodologia de cálculo do PIB. “O crescimento econômico era uma das últimas preocupações que as agências de classificação de crédito tinham em relação ao Brasil”, disse Godoy em entrevista concedida em Londres.
Godoy prevê que a economia brasileira crescerá 4,5 por cento este ano 5 por cento ao ano durante os próximos anos.
Notícia bem-vinda
O analista financeiro do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), Marcel Artoni De Marco, ressalta que não é porque mudou o cálculo que o Brasil está melhor.
“No entanto, a notícia é bem-vinda, pois a nova metodologia tenta espelhar de um modo mais próximo a realidade da economia brasileira”. De acordo com o analista, a grande melhora é na qualidade dos dados. “Como a dívida/PIB era um dos entraves, creio que o País tenha ficado mais próximo do grau de investimento” , pondera.
De Marco considera que os novos dados dão a entender que o País tem uma capacidade maior de crescimento devido a relação de investimento/ crescimento. A explicação é que o PIB cresceu mais, enquanto os investimentos recuaram. “A lógica leva a crer nisto, mas o IBGE pode alterar a forma de calcular o investimento, o que poderia equilibrar os dados”, declara.
As alterações adotadas para o período que vai de 2000 a 2005, divulgadas no último dia 21 de março, fizeram com que o percentual de crescimento fosse corrigido para 3 por cento, contra os 2,6 por cento originais. As correções para 2006, ano em que a economia cresceu 2,9 por cento, serão divulgadas hoje.
Novas emissões
Segundo Godoy, o Departamento do Tesouro brasileiro pretende realizar mais duas vendas de bônus denominados em real com vencimento em 2028 neste ano, o mais longo prazo de vencimento de dívida de renda fixa em moeda local.
“Nosso foco será fomentar mais liquidez para esses bônus”, afirma. Em fevereiro, o Brasil vendeu R$ 1,5 bilhão (US$ 728 milhões) em bônus denominados em real com vencimento em 2028, além de mais R$ 750 milhões de reais do mesmo tipo de título no último dia 20 de março.
“A demanda por bônus denominados em real tem sido forte devido ao fato de os investidores terem a percepção de que os fundamentos econômicos da economia brasileira estão bons”, diz.
Agostini confirma a tendência ao falar da demanda. “Dos títulos soberanos em circulação, 40% são brasileiros. O segundo país nesta lista é o México com 22%”. Na visão do economista, o principal impacto do grau de investimento será sentido no setor financeiro.

Guilherme Manechini

Diário do Comércio & Indústria

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