Nos últimos dias acontece um importante debate sobre o envio de tropas da guarda nacional para a fronteira entre México e EUA. Particularmente, os representantes do México têm expressado sua preocupação sobre o fato de aproximadamente 6000 soldados ocuparem a fronteira entre os dois países. Em adição, se planeja a construção de um muro com 600 km de extensão, estradas para patrulhas e sensores de movimentação, ações igualmente criticadas pelos mexicanos. Além dessas medidas, alterações na lei americana deverá incorporar mudanças no tratamento dado aos imigrantes, legais e ilegais dentro do país.
O que há por traz dessa ação? Quais os prejuízos causados pelos imigrantes? A economia americana não precisa desta mão de obra?
O economista John Kenneth Galbraith, (que por sinal trabalhou para os democratas) no seu livro: “The Nature of Mass Poverty” de 1979(!), apontou àquela época as respostas das questões acima. A lição é antiga, a validade talvez não!!!
A importância da migração dos povos que não se sujeitam às condições habituais de pobreza, e que ao mesmo tempo não estão acomodados (termo utilizado pelo autor), em contrapartida ao que o Prof. Galbraith chama de rompimento do equilíbrio da pobreza deve ser considerado. Este “equilíbrio” por sua vez é determinado pelo fato da existência de uma tendência do país rico aumentar continuamente sua renda, e de outra forma, o país pobre manter-se “equilibrado” em sua pobreza. É possível tal argumentação, uma vez que se deve levar em consideração a racionalidade inerente ao ser humano, e este, quando se vê em uma situação onde a possibilidade de recompensa é remota, frente a uma atitude de combate a sua própria condição de privação, resolve de forma bastante lógica, pela lassidão! Não se pode culpar as pessoas por essa reação. Quando se está em situação muito precária, assumir o risco de mudar sua condição representa a possibilidade de completa perda, inclusive da própria vida, revelando a racionalidade por traz do “equilíbrio da pobreza”.
As condições e oportunidades por outro lado podem impelir determinado sujeito a galgar posição, renda e condições de vida melhores, evidentemente envolvendo a questão do risco, porém nesse caso com conseqüências menos dramáticas. A migração é sem dúvida uma oportunidade! Essa oportunidade pode melhorar tanto a situação do imigrante quanto do setor que o acolheu. Historicamente, as migrações ocorridas em diversos lugares e épocas contribuíram não só para a melhoria das condições de vida em termos de renda e talvez de bem estar dos que foram, mas também daqueles que ficaram e principalmente da região que se tornou a nova residência dessas pessoas. O que está por traz dessa lógica? O aumento da pressão demográfica gera problemas de ordem não só econômica, mas social em um amplo espectro. Aqui está implícita a célebre questão Malthusiana de crescimento populacional e suas conseqüências. Esse agravamento reforça a teoria de que a própria pobreza é capaz de destruir o resultado positivo produzido pela população local, segundo seus hábitos e costumes. De outra forma, imagine que repentinamente todos os imigrantes ilegais nos EUA resolvessem sair daquele país. O resultado seria certamente um colapso principalmente no setor de serviços, sendo aqueles que empregam mão de obra menos qualificada os mais afetados. “A migração, (...) é a atitude mais antiga contra a pobreza”.Seguindo as lições de Galbraith, mais do que resolver o problema da maioria que se decide por migrar, ocorre simultaneamente a seleção daqueles que mais precisam de auxílio. “É boa para o país que os recebe e ajuda a romper o equilíbrio da pobreza no país de onde saem. Qual a perversidade da alma humana que faz com que as pessoas (ou governos) resistam a um bem tão óbvio?” Um dos fatores apontados, particularmente quando se trata de “perversidade”, coisa que os economistas entendem bem, é a tentativa iniciada no início do século passado, de promover uma proteção dos empregos dos nativos. Esta proposição não me parece acertada, uma vez que a proporção de empregos não é fixa, e o argumento ignora que o próprio movimento de imigrantes gera crescimento pela força de trabalho alocado, em adição da ocorrência de crescentes lucros. Ou seja, as novas “ondas de força de trabalho” simplesmente não substituem as anteriores, respeitando o efeito residual que, por um lado, àqueles que tiveram acesso a melhor qualificação durante suas atividades e, portanto estão em situação de almejar melhores posições no mercado de trabalho, e por outro lado, àqueles que porventura regressaram para seu país de origem.
Inúmeros exemplos citados na referida obra remontam historicamente casos onde economias hoje consideradas desenvolvidas não o seriam sem os intensos movimentos migratórios.
Incrivelmente, o caso tratado com mais evidência por Galbraith é o da Suécia:
“No último século (então unida ainda à Noruega) era um dos países mais pobres da Europa. Perto de 90 por cento da sua população vivia na zona rural – em característico equilíbrio de pobreza. Depois de 1860, simultaneamente com o desenvolvimento da educação pública, mas também motivada na década de 60, por uma séria escassez de alimentos e pela fome, a acomodação foi sendo crescentemente rejeitada. Em meio século, de 1861 a 1910, mais de um milhão de suecos mudaram-se para os Estados Unidos. Essa migração e o simultâneo escape para a indústria local romperam o equilíbrio da pobreza na zona rural da Suécia. Como aconteceu com os escoceses e os irlandeses, os suecos que deixaram seu país resolveram seus próprios problemas e os dos que ficaram”.
As lições da história devem ser consideradas à luz do nosso tempo, e guardando as devidas proporções, não parece que o governo americano tenha percebido ou atentado para esses fatos. Pergunte aos “empreendedores americanos” qual o impacto futuro no mercado de trabalho e no nível de salários devido as ações atualmente propostas pelo governo Bush. Certamente aqueles que têm “visão”, fator primordial na definição entre aspas, ficariam de cabelo em pé!
Erich Vale.
O que há por traz dessa ação? Quais os prejuízos causados pelos imigrantes? A economia americana não precisa desta mão de obra?
O economista John Kenneth Galbraith, (que por sinal trabalhou para os democratas) no seu livro: “The Nature of Mass Poverty” de 1979(!), apontou àquela época as respostas das questões acima. A lição é antiga, a validade talvez não!!!
A importância da migração dos povos que não se sujeitam às condições habituais de pobreza, e que ao mesmo tempo não estão acomodados (termo utilizado pelo autor), em contrapartida ao que o Prof. Galbraith chama de rompimento do equilíbrio da pobreza deve ser considerado. Este “equilíbrio” por sua vez é determinado pelo fato da existência de uma tendência do país rico aumentar continuamente sua renda, e de outra forma, o país pobre manter-se “equilibrado” em sua pobreza. É possível tal argumentação, uma vez que se deve levar em consideração a racionalidade inerente ao ser humano, e este, quando se vê em uma situação onde a possibilidade de recompensa é remota, frente a uma atitude de combate a sua própria condição de privação, resolve de forma bastante lógica, pela lassidão! Não se pode culpar as pessoas por essa reação. Quando se está em situação muito precária, assumir o risco de mudar sua condição representa a possibilidade de completa perda, inclusive da própria vida, revelando a racionalidade por traz do “equilíbrio da pobreza”.
As condições e oportunidades por outro lado podem impelir determinado sujeito a galgar posição, renda e condições de vida melhores, evidentemente envolvendo a questão do risco, porém nesse caso com conseqüências menos dramáticas. A migração é sem dúvida uma oportunidade! Essa oportunidade pode melhorar tanto a situação do imigrante quanto do setor que o acolheu. Historicamente, as migrações ocorridas em diversos lugares e épocas contribuíram não só para a melhoria das condições de vida em termos de renda e talvez de bem estar dos que foram, mas também daqueles que ficaram e principalmente da região que se tornou a nova residência dessas pessoas. O que está por traz dessa lógica? O aumento da pressão demográfica gera problemas de ordem não só econômica, mas social em um amplo espectro. Aqui está implícita a célebre questão Malthusiana de crescimento populacional e suas conseqüências. Esse agravamento reforça a teoria de que a própria pobreza é capaz de destruir o resultado positivo produzido pela população local, segundo seus hábitos e costumes. De outra forma, imagine que repentinamente todos os imigrantes ilegais nos EUA resolvessem sair daquele país. O resultado seria certamente um colapso principalmente no setor de serviços, sendo aqueles que empregam mão de obra menos qualificada os mais afetados. “A migração, (...) é a atitude mais antiga contra a pobreza”.Seguindo as lições de Galbraith, mais do que resolver o problema da maioria que se decide por migrar, ocorre simultaneamente a seleção daqueles que mais precisam de auxílio. “É boa para o país que os recebe e ajuda a romper o equilíbrio da pobreza no país de onde saem. Qual a perversidade da alma humana que faz com que as pessoas (ou governos) resistam a um bem tão óbvio?” Um dos fatores apontados, particularmente quando se trata de “perversidade”, coisa que os economistas entendem bem, é a tentativa iniciada no início do século passado, de promover uma proteção dos empregos dos nativos. Esta proposição não me parece acertada, uma vez que a proporção de empregos não é fixa, e o argumento ignora que o próprio movimento de imigrantes gera crescimento pela força de trabalho alocado, em adição da ocorrência de crescentes lucros. Ou seja, as novas “ondas de força de trabalho” simplesmente não substituem as anteriores, respeitando o efeito residual que, por um lado, àqueles que tiveram acesso a melhor qualificação durante suas atividades e, portanto estão em situação de almejar melhores posições no mercado de trabalho, e por outro lado, àqueles que porventura regressaram para seu país de origem.
Inúmeros exemplos citados na referida obra remontam historicamente casos onde economias hoje consideradas desenvolvidas não o seriam sem os intensos movimentos migratórios.
Incrivelmente, o caso tratado com mais evidência por Galbraith é o da Suécia:
“No último século (então unida ainda à Noruega) era um dos países mais pobres da Europa. Perto de 90 por cento da sua população vivia na zona rural – em característico equilíbrio de pobreza. Depois de 1860, simultaneamente com o desenvolvimento da educação pública, mas também motivada na década de 60, por uma séria escassez de alimentos e pela fome, a acomodação foi sendo crescentemente rejeitada. Em meio século, de 1861 a 1910, mais de um milhão de suecos mudaram-se para os Estados Unidos. Essa migração e o simultâneo escape para a indústria local romperam o equilíbrio da pobreza na zona rural da Suécia. Como aconteceu com os escoceses e os irlandeses, os suecos que deixaram seu país resolveram seus próprios problemas e os dos que ficaram”.
As lições da história devem ser consideradas à luz do nosso tempo, e guardando as devidas proporções, não parece que o governo americano tenha percebido ou atentado para esses fatos. Pergunte aos “empreendedores americanos” qual o impacto futuro no mercado de trabalho e no nível de salários devido as ações atualmente propostas pelo governo Bush. Certamente aqueles que têm “visão”, fator primordial na definição entre aspas, ficariam de cabelo em pé!
Erich Vale.
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